21 de jun. de 2007

Uma canção sob o céu vermelho

Um dos melhores momentos vividos em Kenton rolou numa noite gelada de novembro. Por causa do frio e por não ter nada para fazer e nem ninguém para conversar, eu fui para a cama cedo. O tempo estava seco – o que é formidável num lugar sempre úmido – e o céu refletia a luz intensa da cidade, numa conjugação bacana de nuvens esparsas sobre um fundo avermelhado. A minha cama até que era legal e sob as cobertas eu podia ficar alí, olhando para fora, o quanto eu quisesse. Naquela noite, eu tinha uma razão especial para escutar um pouco de música através do meu “walkman”. Há dias, eles vinham anunciando que aconteceria o lançamento mundial de uma canção inédita de John Lennon - ela havia sido descoberta numa gravação caseira que acabou sendo mixada a uma base instrumental nova em folha e a um grupo de vozes. Eram eles... Depois de aproximadamente 25 anos, uma canção inédita dos Beatles estava para ser lançada nas rádios.
Talvez, para muitas pessoas, aquilo soasse como algo banal ou simplesmente como uma forma de tirar mais leite de uma vaca morta. Mas não para mim. “Free as a bird” tocou pela primeira vez no mundo às 10 horas daquela noite, e eu estava lá, embaixo das cobertas, num subúrbio de Londres, a alguns quilômetros de onde os caras tinham produzido aquela beleza. Eu amei a música de cara. A harmonia, a melodia, a letra, o fraseado da guitarra do George, os vocais, o arranjo. Tudo tinha a cara deles – e era muito pungente, muito tocante, muito belo. Até hoje, quando eu ouço aquela música, bate aquela dorzinha no peito – e me sinto quase que automaticamente teletransportado para aquele dia, aquela casa, aquele céu, aquele cheiro e aquela vida; uma vida que eu vivi dentro dessa, e que jamais será repetida.

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