19 de fev. de 2008

Peck's Club III

Uma noite aconteceu algo inesperado. O chefe apareceu correndo lá em cima e veio direto em minha direção. “Vem comigo e traz o balde com um pano”. OK. Quando eu entrei na área de atendimento do restaurante fui cercado pelo português e por um outro garçom que imediatamente se puseram a me supervisionar e pressionar para que eu saísse dalí o mais rápido possível. Eu tinha que limpar algo que eles tinham derramado mas era como se eu não pudesse aparecer, como se eu fosse um bicho que todos sabem que existe mas que não pertence aquele lugar. E o pior não foi isso. Quando eu olhei de soslaio para as pessoas que estavam próximas em duas mesas, vi com clareza um certo ar de desprezo. É. Pela primeira vez em minha vida senti na pele um autêntico olhar de desprezo. Não por quem eu era, de fato, ou pelo que estava fazendo. Mas por representar a chamada ralé do terceiro mundo, que se submete aos trabalhos que eles, os bonitos, não querem mais. Só quem vivencia esse tipo de experiência sabe o quanto ela representa. È como uma brasa virtual que queima o ego do indivíduo. E ainda que, com tal eloquência, tenha ocorrido apenas naquela noite, eu posso garantir: doeu.

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