24 de nov. de 2007

Essa não tava no gibi



A capa diz bastante, mas o interior revela muito mais. No livro Homens do Amanhã: Geeks, Gânsteres e o Nascimento dos Gibis o autor se propõe a analisar o surgimento da poderosa indústria dos comics norte-americana, em especial dos super-heróis. Para isso, ele se baseia na história pessoal de quatro pessoas: Jerry Siegel, Joe Shuster, Harry Donenfeld e Jack Liebowitz. Os dois primeiros são os criadores do Homem do Amanhã, o Super Homem. Os outros dois são empresários que estão por trás da evolução do super-herói e por tabela da indústria dos quadrinhos americana. Em sua aventura para vencer na América, esses 4 descendentes de judeus exploraram e ajudaram a definir um ramo de subcultura jovem que hoje também conhecemos por Geek, ou seja, um jovem ou adulto que se identifica com objetos de consumo da cultura popular.
Mostra dois lados do que está nos bastidores desse cenário: os dois criadores talentosos, meio ingênuos e atrapalhados em sua luta pelo reconhecimento da criação e participação nos lucros da empresa DC Comics ao longo das décadas e os dois empresários (que inclusive teriam ligações com a máfia) na luta pela consolidação dos lucros e capital. Em meio a esse tipo de cenário se delineou este influente ramo do entretenimento para as massas e surgiram, de seus explorados criadores, personagens como Batman, Mulher Maravilha, Lanterna Verde e tantos outros. O livro também traça um panorama da his'toria dessa mídia, retratando grandes e variados autores como Will Eisner, Robert Crumb, Bob Kane, Frank Miller, Harvey Kurtzman, Stan Lee e Jack Kirby.
O livro leva a interessantes reflexões, e nos faz entender um pouco do grotesco espetáculo proporcionado pela maioria HQs que abarrotam as prateleiras das bancas hoje em dia. Afinal, a fruta nunca cai muito longe da árvore. Um cenário desse, propagado por pessoas como Donenfeld, vindo das gangues de rua, da industria de literatura pulp e revistas de "mulher pelada", só podia restar naquele abarrotado de seres, às vezes sem definição quanto a serem bons ou maus e cheios de poderes absurdos, que podem facilmente levar algum garoto a ficar meio desmiolado, ao invés de proporcioná-lo uma experiência espetacular. E tudo muito bem acabado!
Existem outros estudos sobre porquê das pessoas se ligarem nesse tipo de coisa. Eu pessoalmente gosto de algumas HQs de super-heróis, que são bem legais e divertidas, mas parece que o que predomina é lixo radioativo.
Acho que o livro também é uma boa maneira de se aprender sobre o erros e acertos de uma controversa indústria e a importante influência de uma forma de arte bem característica do século 20, também é uma forma de refletir sobre os rumos futuros das HQs e principalmente sobre seu impacto na cabeça da gurizada. A turma dos superpoderes poderia aprender alguma lição sobre isso, e levar o meio pra outros patamares, além do simples "e se os heróis fossem pesoas como nós" que vemos em seriados como Heroes e gibis como Watchmen e Astrocity.

Homens do Amanhã: Geeks, Gânsteres e o Nascimento dos Gibis, de Gerard Jones. Conrad Editora, 446 páginas com fotos.

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