9 de jul. de 2007

Tias

Sobre as tias pouco se falou até hoje. Se levarmos em conta que, enquanto houver irmãos, haverá tias, não podemos desconsiderá-las totalmente. Se elas são importantes? Às vezes.
A função da tia vai da completa inexistência, ou, no máximo, de um nome jogado na mesa do almoço de domingo, quando o pai e a mãe do pai relembram algum fato do passado (coisa rara, raríssima), até a total responsabilidade de uma maternidade repassada (por obrigação moral, abandono da mãe (irmã), morte, etc...).
Famílias onde a geração de bebês foi farta e espaçada, então, dão o maior pano pra manga.
Tem a tia-mais-velha, que a gente não sabe bem se é nossa tia ou tia do nosso pai; tem a tia-avó que não dá a mínima pra nós (quem tu és? Ah, o neto da Joaquina... Não? Seria o da Maria, então?); tem a tia agregada, que casou com o tio verdadeiro; a tia que mora longe, a qual a gente nunca viu, exceto em fotografias antigas, mas faz uma imagem certeira dela considerando os efeitos da gravidade, dos radicais livres e do cansaço do casamento.
Tem também as tias queridas e as tias venenosas (ligeiramente superiores em quantidade). Das queridas só nos lembramos quando, em visita aos pais, as encontramos, ou quando sabemos da morte de uma delas, e lamentamos. Já as venenosas são mais próximas, loquazes, impertinentes e despachadas. Sempre emitem conceitos sobre tudo, mesmo quando não sabem do assunto ou não foram nem mesmo questionadas, e além disso, tem sempre opiniões duplas e opostas a nosso respeito: quando estão conosco (somos maravilhosos), e quando estão com outros (somos insuportáveis).
E as tias temporãs... Essas só servem pra criar problema de consciência: “como pode essa mulher bonita, simpática, que vive me abraçando ser minha tia? Por que Senhor?”
Depois vem a tia-mala e a tia-problema. A tia-mala é aquela que “vive” na nossa casa (quando moramos com os pais), e já faz parte da família. Seja pra tomar o chá da tarde, dividir uma receita de doce, ou simplesmente jogar conversa fora, está sempre por ali; até sentimos falta dela quando não aparece!
Já a tia-problema é o oposto. Vive num outro mundo, tem outros hábitos, normalmente mal aceitos pelos irmãos, e, embora raramente dependa de algum parente para viver, traz dores de cabeça aos mesmos só por existir. Aliás, desse tipo derivam-se duas correntes importantíssimas:
- a tia-separada;
- e a que ficou-pra-titia.
A tia-separada é freqüentemente o assunto do pai ou da mãe com a tia-mala. É a que não conseguiu “se ajustar”; sim, porque se houve algum culpado pela separação no casamento dela, foi ela mesma, que não soube entender as intemperanças do marido. E a que ficou-pra-titia, coitada! Essa não tem vez. Se é ou foi bonita, era vadia e só pensava em se divertir; se foi virtuosa, nenhum homem lhe servia; se era independente, “teve o que mereceu”, e por aí vai... Menos mal pras feias e recatadas, que, “afinal de contas”, não tiveram quem as quisessem.
Depois tem ainda a tia-companheira, a tia-mais-nova (que é um espécime raro), a tia-madrinha, a tia-rica (a mais lembrada, principalmente nas datas de aniversários), a tia-doente, a tia-importante (que não se mistura e até renega os parentes), a tia-pobre, a meia-tia (quando só é meia-irmã do pai ou da mãe), a tia-gorda, a tia-porta, a tiacétera, tiacétera, tiacétera...

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Tias by
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