10 de fev. de 2009

Viva a experiência

Com tanta informação e tanta preocupação com o bom uso do tempo, acabamos ficando alienados de um elemento importante na vida: a experência. Não apenas no sentido do acumulo de vivências ao longo do tempo, mas no conceito simples da palavra, e como se aplica no nosso dia.
O rio da informação é como um rio de verdade, bom pra dar um bom mergulho e uma nadada, mas como um bom rio, seu lugar á abaixo de nossos pés; se ele estiver acima de nossas cabeças, nos afogamos.
Que o digam o monte de "novidades" espalhafatosas que nos assaltam todos dias: uma querendo chamar mais a atenção que a outra; que o digam o monte de bookmarks de sites que nunca vou parar pra ler; sem falar no Second Life! Mal vivo a primeira e vou me enfurnar numa vida secundária? Nada contra o virtual, mas por favor!
Tive contato com um texto muito bom que me fez refletir e compartilho aqui alguns trechos:


"A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece."

"O sujeito da informação sabe muitas coisas... porém com essa obsessão pela informação e pelo saber (não no sentido de "sabedoria", mas no sentido de "estar informado") o que consegue é que nada lhe aconteça."

"...uma sociedade da informação é uma sociedade na qual a experiência é impossível."

"O sujeito moderno é um sujeito informado que além disso, opina... em nossa arrogância, passamos a vida opinando sobre qualquer coisa que nos sentimos informados... essa obsessão também anula nossas possibilidades de experiência, também faz com que nada nos aconteça."

"...a experiência é cada vez mais rara por falta de tempo. Tudo que se passa passa demasiadamente depressa, cada vez mais depressa."

"Esse sujeito da formação permanente e acelerada(...) da reciclagem sem fim(...) é um sujeito que usa o tempo como valor ou mercadoria (...) que não pode ficar pra trás (...) e nessa obsessão de seguir o curso acelerado do tempo, esse sujeito já não tem tempo."

"O sujeito moderno é animado por portentosa mescla de otimismo, de progressismo e de agressividade: crê que pode fazer tudo o que se propõe e para isso não duvida em destruir tudo o que percebe como um obstáculo à sua onipotência.(...) Está sempre desejando fazer algo (...) Independentemente de este desejo estar motivado por uma boa ou má vontade, o sujeito moderno está atravessado por um afã de mudar as coisas. E nisso coincidem os engenheiros, os políticos, os industrialistas, os médicos, os arquitetos, os sindicalistas, os jornalistas, os cientistas, os pedagogos e todos aqueles que PÕE NO FAZER COISAS sua existência. Nós somos sujeitos ultra-informados, transbordantes de opiniões e superestimulados, mas também sujeitos cheios de vontade e hiperativos. E por isso, por sempre estarmos querendo o que não é, porque estamos sempre em atividade (...) não podemos parar. E por não podermos parar, nada nos acontece."

"A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção (...)requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, (...) sentir mais devagar, demorar nos detalhes, suspender a opinião (...) cultivar a atenção e a delidadeza, (...) escutar os outros, cultivar a arte do encontro, (...) cultivar a paciência e dar-se tempo e espaço."

"... é incapaz da experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe, mas não se expõe, (...) com tudo o que isso tem de vulnerabilidade e risco.
É incapaz da experiência aquele a que nada lhe passa, (...) nada lhe toca (...) nada o afeta (...) nada o ameaça, a quem nada ocorre."

"...somente o sujeito da experiência está portanto, aberto à própria transformação."

"...o saber da experiência se dá na ralação entre o conhecimento e a VIDA humana."


Enfim, idéias interessantes, profundas e no geral corretas e úteis, que irei experimentar um bom tanto. Espero que possam ter alguma utilidade pra mais alguém.

Fonte:
Notas Sobre a Experiência e o Saber da Experiência
Jorge Larrosa Bondía
Revista Brasileira da Educação, jan-abr 2002, pgs 20-28

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