5 de set. de 2007

Bons Ventos

Fui. Meio ressabiado, mas fui ver a solenidade de entrega do certificado de capital brasileira da cultura, que aconteceu segunda-feira, dia 3, ao cair do dia nos Pavilhões da Festa da Uva. Fui mais pra ver o show do Ivan Lins acompanhado da orquestra municipal de sopros, mas não me arrependi, muito pelo contrário. A orquestra fez bonito e deu uma grandiosidade e beleza à música do Ivan, que elevou o astral de todos presentes.
Quanto à parte política, deixou bastante coisas pra se pensar. O prefeito se entusiasmou durante seu discurso e falou aos gritos, numa forma de contestar aos que criticaram esse prêmio e disseram que esta cidade não tem cultura. Uma cultura de um povo humilde que tem história, disse ele.
Não lembro direito o que o secretário da cultura falou, mas lembro de seu semblante talvez um pouco resignado e de algo que o Ivan Lins falou no início de sua apresentação e que na hora não fez tanto sentido, mas agora faz: que esse prêmio era resultado do trabalho de umas poucas pessoas ( no caso as autoridades ).
Antes de tudo, vale lembrar que esse prêmio não representa exatamente uma coroação, mas tem justamente a intenção de fomentar, a cada ano, o desenvolvimento de alguma cidade ( o prêmio tem o aval da Unesco e existe em várias partes do planeta ). Ficamos chateados com os políticos e a primeira coisa que vem à mente é que o dinheiro que virá não será bem empregado. Mas não deveríamos pensar assim. Há tanta coisa ruim, que paramos de acreditar nas coisas, esquecemos de perdoar algum deslize que as pessoas que não gostamos talvez cometam ( eu poderia muito bem não elogiar a performance da orquestra porque uma vez fui vender uns livros usados na livraria do maestro e ele se mostrou um pouco aproveitador demais) mas devemos valorizar as coisas certas.
Esses dias ouvi uma frase interessante, que dizia que crescer não significa necessariamente jogar fora o que se tem e partir pra algo totalmente novo - isso é mudar e não crescer; o crescimento tem mais a ver com uma árvore, que adquire mais espessura mas mantém seus anéis. Caxias terá que crescer, mas perder sua raiz cultural seria uma falta de tato muito grande.
Mas acredito que o pensamento mais relevante e que deveria muito bem ser colocado na mente da gringada é o que foi dito pelo assessor do ministro da Cultura e que é uma coisa que a turma daqui que só pensa em trabalho precisa aceitar: A CULTURA DEVE VIR ANTES DA INDUSTRIALIZAÇÃO, DA ECONOMIA. Entendo por cultura o respeito, a educação, o alto astral, a espiritualidade/religiosidade, o olho no olho, a humildade, o sentar na frente de casa e sorrir prum vizinho que passa, sem medo de perder um pedaço. Cultura é sentir o que uma música como a do Ivan Lins faz com o coração de quem ouviu ao vivo. Isso alimenta, e nos dá motivação. Pra trabalhar, inclusive. Cultura é tempo pra refletir e absorver algo novo, algo bom que sempre pode ser incorporado.
Esse prêmio foi realmente fruto da iniciativa política. Eu nem sequer conheço essas pessoas ( e quem quer saber quem eles são? ) porém a partir de hoje tenho motivos pra acreditar que isso virá a somar. Não será uma grande mudança, mas será importante pra tornar essa cidade um lugar melhor pra se conviver. É uma boa oportunidade pros velhos donos do pedaço abrirem sua visão, e espero que renda bons resultados: essa é a quarta cidade da região sul, segundo apontado recentemente, e precisa fazer valer isso. É uma boa oportunidade pra tantos que reclamam da falta de espaço conquistarem esse espaço.
Espero que os bons presságios que senti não tenham sido causados apenas pela emoção de uma boa música e da primavera que se aproxima, mas que se concretize. Cansa guardar rancores, e acaba nos tornando tão duros quanto a dureza que nos incomoda, prefiro sempre acreditar que o melhor vem depois. Vamos ver no que vai dar, com paciência e votos de que "a vida possa ser maravilhosa".

Nenhum comentário: