21 de ago. de 2007

Peck's Club I


Depois de um dia de cão naquele “bloody” restaurante italiano, qualquer coisa seria melhor. Além disso, a verba ficando cada vez mais escassa era um belo estímulo para eu entrar noutra fria. Quando Muller me falou da vaga no restaurante onde ele trabalhava eu topei na hora.
- Terça-feira te levo lá pra falar com o “Boss”.
OK. A terça-feira à que ele se referia era justamente dia 02 de janeiro (de 1996). Filha-da-puta...que enrascada. Como o peruano já tinha dado referências minhas, eu fui aceito no ato. Lá não tem essa de carteira profissional, avaliação, treinamento, o escambau (até porque éramos todos ilegais mesmo). Se o cara vai com a tua cara ele te “contrata”, se não, você vai embora. Bem, foi o segundo dia de trabalho mais fodido da minha vida. O tal do clube ficava numa esquina a uns 50 metros de uma avenida tri movimentada de Covent Garden (perto da escola aonde eu estudara). Para os nossos padrões seria um inferninho, mas pra eles era um lugar chique. No subsolo ficava o clube propriamente dito, uma espécie de caverna pintada de branco, com portas verdes e maçanetas de bronze redondas. Ali havia um bar e uma sala anexa com mesas de pedra aonde os sócios vinham jogar gamão ou xadrez e beber até se entortar. No térreo ficava o restaurante e no primeiro andar a cozinha e a despensa. O espanhol falava um inglês engraçado, mas era fácil de entender e quando ficava bravo caia na língua natal, é claro. Depois de um breve passeio pelo local fui apresentado aos meus novos avental, vassoura e rodo. A primeira lição de auxiliar de cozinha e de limpeza foi dada pelo Muller, já que, fiquei sabendo na hora, eu acabara de assumir o lugar dele na base da hierarquia do lugar. Que dureza. O problema era que no dia 02/01 eles tem como hábito limpar toda a sujeira que deixam acumular no ano e adivinha pra quem sobrou? Depois de várias horas varrendo, lavando e esfregando, lá estava eu, agora em cima de um fogão industrial, de cócoras, com metade do meu corpo dentro de uma coifa, ou seja: num lugar em que eu jamais poderia imaginar me encontrar um dia. Esfregar uma coifa de restaurante por dentro, todo torto, e ainda com o puto do espanhol botando pressão é algo que eu não desejo pra ninguém. Ao final do primeiro expediente (por volta das duas da tarde) eu estava tão cansado que corri pro metrô pra ir descansar em casa. Me lembro como se fosse hoje a sensação de ter sido atropelado por um ônibus quando deitei na cama. De qualquer forma, as 18:30 eu estava de volta lá e aí comecei a aprender as coisas da cozinha.

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3 comentários:

Cristian G. Moz disse...

Foda hein, eu tambem limpei coifa de churrasquinho grego - Kebab - era uma nojeira, mas foi onde consegui ter mais clareza de como era boa a minha vida e daquilo q realmente eu queria fazer dali pra diante - entre outras, estar bem longe daquilo.

Le Daros disse...

Com certeza, caro conviva. É por essas e outras q a gente sabe o que NÃO fazer das nossas vidas.

Anônimo disse...

... assim lembramos de como nossa vida é boa !!!